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Jornal das Associaçōes Comerciais do Estado de São Paulo
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Indústria e varejo de brinquedos discutem a ressignificação do setor

Troca de bonecas e carrinhos por tablets e games leva redes menores a ampliar oferta de produtos e a crescer no vácuo de quem encolheu, como Ri Happy e PB Kids.

Se existe um mercado que está sendo colocado à prova no Brasil é o de brinquedos, estimado em R$ 11 bilhões por ano, praticamente divididos entre a indústria e o comércio.

Primeiramente, porque a criança de hoje não é mais como aquela de 20, 30 anos atrás. Os tablets, os games e os celulares disputam com as bonecas e os carrinhos a preferência da molecada.

As notícias nada boas sobre redes tradicionais e especializadas em brinquedos revelam o que pode ser também consequência da mudança de comportamento dos pequenos.

Duas das maiores do setor, PB Kids e Ri Happy, agora sob o comando do grupo Carlyle, enfrentam uma baita crise financeira e estão fechando dezenas de lojas no país.

Outra rede com dívidas gigantescas e até suspeita de prática de fraude, a Lojas Americanas, uma das maiores revendedoras de brinquedos do país, também está encolhendo.

 

EFEITO PANDEMIA

Se considerar os números de empresas que informam à Receita Federal a operação com o comércio de brinquedos, dá até para afirmar que a fase mais dura da pandemia ajudou o setor.

Em 2019, havia 2,11 mil de lojas de brinquedos ativas no Estado de São Paulo, número que subiu para 2,75 mil em 2020, 3,52 mil em 2021 e 3,7 mil em 2022.

Os números foram levantados, com base no CNAE (Cadastro Nacional das Atividades Econômicas), pela Varejo 360, a partir de informações de tíquetes de compras de paulistas.

Este salto, porém, tem muito a ver com o surgimento de empresas que passaram a vender brinquedos pela internet, de acordo com Fernando Faro, diretor da Varejo 360.

Pela estimativa da Varejo 360, das 3,7 mil de lojas ativas do setor em 2022, por exemplo, 2,29 mil eram empresas com vendas apenas pelo comércio eletrônico.

 

VIRADA

O ano de 2023 já está bem diferente. As empresas ativas caíram agora para 3,4 mil, das quais 1,52 mil com venda pela internet, de acordo com estimativa da Varejo 360.

“A pandemia deu um salto no número de empresas ativas porque pessoas que perderam o emprego, por exemplo, passaram a vender brinquedos em marketplaces até como meio de vida. O fato é que, agora, essas empresas estão morrendo na mesma velocidade”, diz Faro.

Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, associação que reúne a indústria de brinquedos, diz que o setor está passando por uma “ressignificação”.

Representantes da indústria e do comércio estão conversando o tempo todo para entender o que aconteceu e qual é o futuro para o mercado de brinquedos.

“Isso não quer dizer que a criança não quer mais brinquedo e que não vai mais brincar e, sim, que será de uma maneira diferente”, afirma Batista da Costa.

A performance de vendas para o Dia das Crianças neste ano, de acordo com ele, foi ruim. O tíquete médio de venda foi de R$ 70, praticamente a metade do valor do ano passado (R$ 150).

“A população está mais pobre e isso afeta também este setor. Grandes redes de varejo estão se reestruturando também porque houve queda do volume de vendas”, diz.

Recentemente ouviu de um pai que um filho pediu de presente no Dia da Criança o jogo Banco Imobiliário, da Estrela, um tênis e uma camiseta do time de futebol preferido.

“De fato, o comportamento do nosso consumidor mudou e 2023 está sendo um ano bem desafiador”, afirma Renata Blanc, sócia-proprietária da Blanc Toys e presidente da Associação de Lojistas de Brinquedos do Brasil (ALBB).

Se empresas tradicionais do setor estão com dificuldades, imagina aquelas que surgiram só para surfar a onda do e-commerce.

Na feira da Abrinq deste ano, de acordo com Batista da Costa, ainda sem o efeito da crise da Lojas Americanas, deu para ver a euforia para vender brinquedo no canal virtual.

“Vimos uns 4,5 mil CNPJs novos. As pessoas entram no negócio achando que vão ficar milionários e depois desistem, por isso cresceu o número de CNAEs na pandemia”, diz.

“Brinquedo não é para amador. A margem é pequena”, diz Renata.

 

OPORTUNIDADE

Agora, é fato também, diz ela, que redes menores podem se beneficiar do encolhimento das três das maiores revendedoras de brinquedos do país.

A Blanc Toys, por exemplo, diz, com três lojas físicas e uma virtual, registra neste ano crescimento de dois dígitos no faturamento em relação ao ano passado.

“O cliente gosta de ir até a loja para ter experiências. Não vendemos somente brinquedos, mas também livros e produtos relacionados com a formação das crianças”, diz.

Um público que parou de brincar mais cedo por conta de games, tablets, celulares, diz, também está voltando para as lojas em busca de produtos colecionáveis.

Personagens dos filmes Star Wars e Harry Potter são exemplos. “Adultos também procuram brinquedos até como forma de relaxamento e diversão. É o que estamos vendo”, diz.

Os lojistas que entenderem este novo momento do consumidor infantil, de acordo com ela, podem dar a volta por cima. 

“As lojas têm de vender produtos que conversam com o mundo da criança, brinquedos, produtos esportivos, educacionais. Estamos passando por uma metamorfose de mercado.”

A ALBB reúne cerca de 30 redes regionais com trabalho conjunto para negociar a obtenção de crédito, compras de embalagens, venda de produtos exclusivos e até realizar campanhas.

“Essas redes estão há mais de 20 anos no mercado e conhecem bem o negócio. Formamos um grupo que trabalha junto com interesse em fortalecer a indústria nacional e os importadores.”

Além de ampliar a oferta de produtos para atender a nova criança, os lojistas, diz ela, devem trabalhar com pontos de venda que dão resultado positivo.

Erra quem acha que inaugurar loja é o caminho para se dar bem no negócio.

A Blanc Toys, diz ela, chegou a ter cinco lojas físicas e decidiu fechar duas que não estavam indo bem. “Nós precisamos atender bem o cliente e ter margem positiva.”

A união dos lojistas especializados, com trocas de informações, diz ela, tem contribuído para a sobrevivência do setor.

“O compromisso é melhorar a vida da criança, valorizar o brinquedo e o brincar, ter bom relacionamento com os fornecedores e estar antenado com a demanda dos clientes”, diz.

A Blanc Toys já tem planos para voltar a crescer, de acordo com ela, a partir do ano que vem.

 

IMAGEM: Freepik


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