Grandes demais para falhar
Jarib B D Fogaça
Jarib B D Fogaça
Sócio na JFogaça Assessoria e conselheiro independente.

Grandes demais para falhar

Uma busca mais profunda, tanto nas notícias como nas próprias empresas, nos mostra uma situação que pode até ser alarmante para uma crise financeira no setor industrial.

À época da crise financeira de 2008, que em 15 de setembro culminou quando o banco Lehman Brothers (fundado em 1850) quebrou, a expressão que aparentemente já existia foi então chancelada: Grandes demais para falhar, do inglês “Too big to fail”, para se referir às grandes empresas que se quebrarem, acreditava-se que o dano seria maior do que se forem socorridas.

 

Tendo como justificativa esse raciocínio, os governos de vários países anunciaram planos de socorro à economia, aplicando bilhões de dólares nos bancos.

 

Houve ainda o livro de Andrew Ross Sorkin (com o mesmo título e que depois virou filme), demonstrando a justificativa do governo americano para salvar instituições que se acreditava que, em caso de falência, levariam o sistema financeiro mundial para o buraco.

 

E o que nos chama atenção atualmente é que há pouco tempo vimos uma notícia em jornal com o título: “Mais de um quarto das empresas não gera resultado suficiente para pagar dívida”.

 

Uma busca mais profunda nesse tema, nacionais ou mundiais, tanto nas notícias como nas próprias empresas, nos mostra uma situação que pode até ser alarmante. Sim, há mesmo um certo número de empresas, de muito grande porte, que tem uma estrutura financeira de dívida quase impagável!

 

Sem revelar nomes, apresentamos a seguir alguns casos reais do balanço, resultados e fluxo de caixa do fechamento de 31 de dezembro de 2023.

 

Num primeiro caso internacional, temos alguns indicadores preocupantes:

  • os passivos financeiros (empréstimos e financiamentos) representam 94% das vendas anuais;
  • o EBITDA contábil (caixa líquido gerado por (usado em) atividades operacionais representa 11% dos passivos financeiros totais;
  • a empresa apresenta no balanço um total de ativos intangíveis, incluindo “goodwill” de 116% do faturamento anual.

 

Talvez sem os números reais possa até ser um pouco difícil para se entender todos esses indicadores, mas vamos lá: o EBITDA contábil de uma empresa representa o caixa líquido que ela gerou no ano. Se nesta empresa esse valor é 11% da dívida financeira total, ela levaria em torno de 9 anos (100:11=9) para pagar o principal.

 

Num segundo caso, ainda internacional, temos também indicadores preocupantes:

  • os passivos financeiros (empréstimos e financiamentos) representam 131% das vendas anuais;
  • o EBITDA contábil (caixa líquido gerado por (usado em) atividades operacionais representa 17% dos passivos financeiros totais;
  • a empresa apresenta no balanço um total de ativos intangíveis, incluindo “goodwill” de 266% do faturamento anual.

 

Nesse caso, o EBITDA contábil que representa o caixa líquido que essa empresa gerou no ano é 17% da dívida financeira total, portanto, levaria em torno de 6 anos (100:17=6) para pagar o principal.

 

Num terceiro caso, agora nacional, de uma empresa brasileira, temos também indicadores preocupantes:

  • os passivos financeiros (empréstimos e financiamentos) representam 194% das vendas anuais;
  • o EBITDA contábil (caixa líquido gerado por (usado em) atividades operacionais representa 22% dos passivos financeiros totais;
  • a empresa apresenta no balanço um total de ativos intangíveis, incluindo “goodwill” de 50% do faturamento anual.

 

No caso desta empresa, o EBITDA contábil que representa o caixa líquido que essa empresa gerou no ano é 22% da dívida financeira total, portanto, levaria em torno de 5 anos (100:22=5) para pagar o principal.

 

Para esses exemplos, utilizamos dados reais do fechamento de dezembro de 2023 de empresas de capital aberto, e essa situação nos leva a algumas preocupações:

  • será que estamos caminhando para um colapso financeiro, agora no setor industrial?
  • e como fica a governança dessas empresas com esses indicadores de alto risco?

 

Uma conjunção de duas teorias que formam a base para a Governança Corporativa, a Teoria da Firma e a Teoria da Agência, discutem essas situações.

 

A Teoria da Agência foi [aparentemente] desenvolvida/concebida em uma teoria que explora/analisa o relacionamento e eventual conflito entre duas partes: a parte principal [proprietários] e seu agente [seu dirigente], para quem a responsabilidade de trabalho de direção é delegada.

 

Já a Teoria da Firma integra e discute os elementos da Teoria da Agência e de outras teorias [dos Direitos de Propriedade e das Finanças] para desenvolver uma teoria da Estrutura de Propriedade da empresa.

 

Mas saindo dessas teorias e indo para a prática, o conceito de forma geral tem evoluído com discussões de como a governança de uma empresa é [e pode ser] baseada nos conflitos de interesse entre os proprietários da empresa (acionistas), seus gestores [dirigentes/diretoria] e principais financiadores de dívida. E vejam que destacamos aqui os financiadores de dívida, que têm interesses profundos no sucesso da empresa. Vale notar, porém, que cada um desses grupos tem diferentes interesses e objetivos.

 

Então fechamos nossa análise em retrospectiva em que, possivelmente, estamos caminhando para uma crise financeira no setor industrial, uma vez que outros já notaram que mais de um quarto das empresas não gera resultado suficiente para pagar dívidas.


Jarib B D Fogaça| Grandes-Empresas, Crise-Financeira, Setor-Industrial, Governança, Dívida

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