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O caminho da inovação

Há pouco tempo em uma palestra que assistia, ouvi o palestrante expressar sua visão de que o Brasil tem dificuldade em inovar pois tem uma tradição maior na produção industrial. 

Nos parece que sim, que essa tradição de produção industrial - faz parte da formação mais ampla do país.

E notando que há uma grande diferença entre uma invenção e uma inovação: a primeira - invenção - se constitui em um ato ou efeito de inventar, de criação; um ato de criatividade que resulta em algo novo, seja objeto ou não, mas o suficiente para produzir uma mudança significativa na realidade da vida cotidiana. E a segunda - inovação - se constitui de forma simples no ato de transformar, de novação no modo fazer de algo que já se faz.

A tradição industrial, seja no Brasil ou no mundo, tem como marco maior de inovação industrial a estrutura de linhas de montagem atribuída por concepção a Henry Ford, a quem também se atribuiu que a ideia veio da linha de desmontagem do gado – faz sentido! Depois disso podemos ter até muitos defendendo que há sempre inovação industrial, mas temos que admitir, são inovações com cunho de eficiência na sua essência e não de grande transformação no modo de se produzir algo, algum equipamento ou estrutura.

Desta forma, o caminho da inovação para além das nossas bases de riqueza se torna um desafio grande. Neste campo sempre se vale a pena consultar Steve Blank, considerado o pai do empreendedorismo moderno e conhecido por desenvolver a metodologia Customer Development ou descobrimento [identificação] do Cliente. Ainda dentro desta metodologia temos o conceito de MVP - Minimum Viable Product / Produto Mínimo Viável, que lançou as bases para o movimento Lean Startup (Startup Enxuta).

Enquanto por muitos anos, mesmo nos Estados Unidos, em que a inovação está na essência da sociedade, se via um longo e não muito frutífero caminho com a maioria das startups! O que Steve Blank trouxe para esse mundo, foi uma metodologia que se aplica a qualquer uma delas, seja na busca de inovação industrial, agrícola, extrativista ou outra, e certamente nas startups tecnológicas. Com toda experiência precedente, Steve Blank é ainda mais reconhecido por sua contribuição para o NSF / National Science Foundation, que é a Fundação Nacional de Ciência dos EUA, entidade de fomento na pesquisa fundamental em todos os campos da ciência e da engenharia.

A contribuição de Steve Blank foi fundamental também para o programa I-Corps, pois ele foi o arquiteto e autor do currículo NSF Innovation Corps [I-Corps]. Blank trabalhou com a NSF para modificar o currículo Lean Launch Pad para servir como curso para I-Corps e, em parceria com a Universidade de Stanford, onde Blank atua como professor associado de consultoria, lançou o primeiro curso I-Corps em 2011.

E podemos notar que essa tradição industrial, bem como agrícola e extrativista de riquezas naturais entre elas minérios e outros, representa grande parte - muito boa - na realidade econômica e riqueza do nosso país. Entretanto, não podemos negar que nossa riqueza representa nossa experiência - e no campo da inovação não temos experiência tão longa e profunda como alguns dos países mais desenvolvidos.

Mesmo assim, já temos alguns exemplos dignos de homenagem tal como foi no evento de 100 anos da ACIC em Campinas no mês de setembro de 2022. Nesse evento foram homenageadas quatro empresas regionais sendo a Selmi, uma empresa mais que centenária e admirável, na produção de alimentos, massas e pastifícios.

E as outras três homenageadas, relativamente jovens, representam muito bem o conceito de inovação:

• A CI&T, uma multinacional brasileira de soluções digitais e de transformação digital, certamente tem seu sucesso na inovação, adotando práticas de Design, metodologia Ágil e a filosofia Lean. A empresa foi fundada em 1995;

• iFood, uma empresa brasileira fundada em 2011, atuante no ramo de entrega de comida, encomendada pela internet, com presença marcante no Brasil, e na Argentina, no México e na Colômbia;

• QuintoAndar, uma startup brasileira de tecnologia focada no aluguel e na venda de imóveis, fundada no início de 2013. Na modalidade aluguel, a companhia administra o pagamento de aluguel ao proprietário, dispensando inquilino de apresentar fiador, seguro-fiança ou depósito caução.

Uma forma rápida e exemplar para se entender inovação é entender o negócio dessas três empresas exemplo; soluções digitais, entrega de comida e aluguel são áreas ou setores de negócios já existentes há tempos. Essas empresas inovaram na forma de entrega, prestação desses serviços e, assim, se destacam e prosperam diariamente.

O caminho da inovação vai muito além de simplesmente se inovar em algo ou algum produto ou serviço; a importância impactante está em conectarmos de forma evidente a inovação e o empreendedorismo, e evoluirmos de um modelo de negócios de uma startup para um plano de negócios de empreendedores de sucesso e prósperos.

Jarib B D Fogaça|