Evento da ACSP debate a força feminina no ecossistema empreendedor

Evento da ACSP debate a força feminina no ecossistema empreendedor

O 2º Encontro "Liberdade para Empreender", realizado pelo Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da ACSP e da Facesp, reuniu líderes e especialistas para discutir o empoderamento feminino no mundo dos negócios

Se há algumas décadas a maior dificuldade das mulheres era entrar no mercado de trabalho, hoje, o desafio é permanecer. Os efeitos da crise da economia brasileira refletiram em um maior descolamento entre a taxa de desemprego feminino e a dos homens. O nível de desocupação delas é de 17,1%, ante 11,7% para eles, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por outro lado, 30 milhões de mulheres brasileiras empreendem atualmente, segundo o Global Entrepreneurship Monitor. O número é equivalente a quase metade do mercado empreendedor (48,7%), e só em 2020 cresceu 40%, conforme dados da Rede Mulher Empreendedora. Apesar de positivo, esse balanço revela muito mais necessidade do que oportunidade.

Maioria da população brasileira (51,4%), elas também são maioria nas universidades, e representam a maior parcela de profissionais com diploma. Entretanto, ainda encontram muitas dificuldades para conquistar cargos mais altos em empresas - das 250 maiores do país, apenas 4% apresentam mulheres entre os principais executivos.

Com esse pano de fundo, o Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) realizou nessa quinta-feira, 25/11, o 2º Encontro Liberdade para Empreender, a fim de debater o empoderamento feminino no mundo dos negócios, sob o comando de Ana Claudia Badra Cotait, presidente do CMEC.

"Como sociedade ainda temos um longo caminho para garantir o aumento no envolvimento de mulheres nas lideranças de empresas e em outras áreas, como cultura e tecnologia. Ainda aquém do que merecemos, estamos mostrando que, diante de uma crise sabemos criar novas possibilidades, garantindo que todas tenham as oportunidades para se desenvolver", disse Ana. 

Em seu discurso, Ana Claudia também destacou que o programa de concessão de crédito para as empreendedoras, por meio do programa ACCredito Mulher Empreendedora da ACSP, já viabilizou mais de R$ 23 milhões em microcrédito para negócios comandados por mulheres. 

Muito citada entre os convidados do evento, a pandemia trouxe novos desafios, especialmente para aquelas que conciliam o trabalho com a maternidade. De acordo com uma pesquisa da empresa de cibersegurança Kaspersky, a crise atual afetou a vida profissional das mulheres que trabalham com tecnologia, por exemplo. Na América Latina, cerca de 60% das mulheres que atuam no setor acreditam que os efeitos da pandemia prejudicaram seu desempenho no trabalho.

Tecnologia, empreendedorismo e inovação pautaram um dos painéis do evento reunindo empreendedoras que trabalham para o avanço de estatísticas positivas no universo feminino. Uma delas, Micheli Junco, cofundadora da B2Mamy, está em contato com comunidades de mães empreendedoras em todo o Brasil e se vê diariamente diante de ideias escaláveis, inovadoras e tecnológicas que muitas vezes não prosperam por falta de apoio ou traquejo tecnológico. 

Como aceleradora, a B2Mamy foca em capacitação por meio de uma plataforma virtual para as empreendedoras se conectarem e fazerem negócios. Além disso, o negócio tem como sede um espaço family-friendly, em São Paulo, com salas ocupadas por empresas lideradas por mães.

Ela citou no evento que apenas 4,7% das startups brasileiras são fundadas exclusivamente por mulheres. O número faz parte do estudo “Female Founders Report 2021”, realizado pela Distrito em parceria com a Endeavor e a B2Mamy. Com desafios práticos e reais, Micheli destaca que somente 0,04% de todo o capital de risco investido no Brasil em 2020 foi destinado a empresas fundadas exclusivamente por mulheres.

Embora pareça uma atividade arriscada, especialmente quando os requisitos mínimos para a sua realização não são garantidos, a empreendedora estimula que toda mulher repense o potencial de suas atividades por meio da tecnologia. Ela citou o exemplo da cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira, que trabalhou em bancos tradicionais antes de fundar o Nubank em 2013 e se empenhou em criar algo diferente e mais simples, mas com a mesma importância da concorrência.  

"Isso não serve apenas para o mercado financeiro. Você pode vender brigadeiro e ser super inovadora nesse nicho, alcançar milhares de pessoas com seu negócio", disse Micheli. "Se você quer inovar, não pergunte o que fazer para seu melhor cliente ou para sua família. Pergunte para quem não comprou de você, porque ele não comprou? Aí você vai descobrir o que fazer, como inovar e sair da zona de conforto."

Em meio à pandemia, a B2Mamy deu início à expansão nacional e internacional de seus hubs físicos e passou a financiar as startups que desenvolve através de uma parceria com a o hub de investimento Wishe Women Capital. Como parte desse processo, o negócio recebeu mais de cem interessadas em franquear o modelo da casa em menos de 24 horas.

Destas, 20 passaram para um estágio posterior de negociação, que culminou na escolha das cinco localidades para a fase inicial de expansão: Salvador, Recife, Porto Alegre, Campinas e Portugal. O objetivo é ter uma rede de 12 casas até o final de 2022, com 1 milhão de mulheres impactadas mensalmente.

Ao lado da empreendedora, Alessandra Andrade, coordenadora do Conselho de Inovação (Conin) da ACSP, falou sobre a importância de mulheres que alcançaram o sucesso apoiarem quem está começando - seja consumindo, divulgando, valorizando ou orientando.

"Nossos sonhos não são inatingíveis. Estamos abrindo caminho para além de conquistar espaço e ter acesso a melhores oportunidades, mas também encontrarmos uma forma saudável de conciliar todas as pressões diárias que as mulheres enfrentam", disse.

Defendendo a ideia de que o mercado ainda tem muito a aprender sobre a equidade de gênero, Alfredo Cotait Neto, presidente da ACSP e da Facesp, disse se orgulhar da trajetória da entidade como uma rede que permite e contribui para o fortalecimento e desenvolvimento econômico do país.

Ao citar um desses avanços, Cotait recordou a importância da Lei Complementar 128, que criou o Microempreendedor Individual, mais conhecido como MEI, de autoria de Guilherme Afif Domingos, assessor especial no Ministério da Economia. Passados mais de dez anos desde a sua aprovação, a lei segue trazendo benefícios, especialmente para as pequenas empresárias que se tornam donas de seu próprio negócio dentro da formalidade devido ao MEI.

"Trata-se de uma condição diferenciada [o MEI] e que colabora para o crescimento do empreendedorismo feminino. As mulheres não desistem e nosso papel como entidade é ajudar a criar condições para que isso prospere", disse Cotait.

Apontado como protagonista desse avanço, na ocasião, Afif foi homenageado e recebeu das mãos de Ana Claudia o prêmio Tarsila do Amaral, criado pelo CMEC e anualmente entregue a empreendedoras de destaque. 

Confira a íntegra do 2º Encontro Liberdade para Empreender clicando aqui.

 

Fonte e Imagem: Diário do Comércio


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